E se a megera me encontrasse?
Eu não podia ficar esperando na porta, muito menos bater. Então só vi uma saída. Aliás, duas.
Uma seria perguntar ao mordomo onde seria meu quarto.
A outra, seria procurar outro banheiro.
Preferi procurar o meu quarto. Claro, estava morrendo de curiosidade pra saber como era. Mas na verdade, nem adiantava procurar. Se eu quisesse acha-lo, teria que perguntar ao mordomo.
E foi isso que eu fiz. Voltei para a cozinha, na esperança de encontra-lo lá. E dei sorte, já que o cara tava saindo para levar umas carnes pro meu pai.
-Oh, você aqui de novo. Gostaria de mais alguma coisa? - como ele conseguia ser tão educado?
-Sim, na verdade quero. Você, por um acaso, sabe onde é, ou onde será o meu quarto?
-Sim, eu sei. A dona Mônica já o decorou todo para sua chegada.
-Ah, claro que ela decorou, mas será que você pode me levar até lá?
-Claro, com todo prazer, mas... - ele parou pensativo - você não deveria estar na festa?
Congelei. Porque ele tinha que lembrar disso? Sério, parece que eu sou a única esquecida do mundo. Inventei uma desculpa, meio esfarrapada, mas acho que colou.
-É que tenho que deixar minhas coisas lá em cima, porque minha bolsa ta pesada e não posso deixa-la em qualquer lugar.
Tá, eu tinha achado que tinha colado, mas ele é muito espertinho pro meu gosto, já que continuou:
-Então, cadê sua bolsa?
Aaaah, que raiva.
-Olha só, você pode me dizer aonde é, que eu vou tá legal?
-Você sobe as escadas, ai vira a direita...
E ai ele me explicou. Era meio complicadinha de chegar, mas eu achei. Bom, e fiquei surpresa.
O quarto estava bem decorado. E a Mônica tinha decorado. Como assim?
Tinha uma cama "solteirão" bem no meio do quarto, com uma colcha linda lilás e branca, e criados mudos brancos, um de cada lado da cama, com abajures em cima. As cortinas eram lilás, da cor da parede. A escrivaninha estava perto da porta do banheiro, com um computador e um telefone. E como eu já disse, tinha um banheiro. Eu nunca tinha tido um banheiro no meu quarto, só para mim. O armário tinha umas portas de arrastar e várias gavetas. Tinha uma TV de 25 polegadas em um cômodo branco, com um DVD embaixo, e espaço para guardas os filmes e cds, além de, no comôdo, um som pequeno com entrada para ipod. Em cima da escrivaninha, na parede, tinha um daqueles quadros para colocar fotos. Tinha também um espelho grande perto da porta, e estantes para guardar livros. E perto da janela tinha dois belos pufs rosa-bebê.
Eu tinha gostado do quarto. É estranho, mas eu tinha gostado.
Depois de ter apreciado bastante todos os detalhes do quarto, me joguei na cama.
Era a melhor cama do mundo. Ela era super macia , como se fosse um pula-pula pra criança. Deite-me nela, liguei a TV...
E dormi.
***
Acordei no final da tarde. A TV estava desligada, sinal de que alguém tinha estado ali. Olhei em volta do quarto e percebi que minha bolsa estava em cima da cadeira do computador.
Me levantei, e fui até o banheiro. Tomei um banho, me vesti, tomei coragem, e desci.
Já eram sete da noite. A gangue já tinha ido embora. Saí andando pela casa em busca de alguém conhecido, mas ela estava vazia.
Até que encontrei o Toni.
-Oi Mandy. E ai, gostou da casa, do seu quarto?
-É, claro, gostei muito. Onde está o papai, sua mãe, a Tina?
-Mamãe e papai no quarto, e Tina acho que está na cozinha fazendo um lanche.
-Ah tá. E como foi a festa.
-Foi ótima. Você tinha que ter visto o Tio Robert dançando a macarena, ele tava totalmente bêbado.
Eu ri. Eu sabia quem era o tio Robert, bem, só de foto. Ele era baixinho, gordinho, usava um bigode pra lá de bizarro, e tinha uma voz muito esquisita, porém grossa. Imagina-lo dançando a macarena bêbado, me fez rir.
-Há há há, deve ter sido engraçado.
-E foi- disse ele rindo - Escuta Mandy, você quer assistir um filme?
Sério, eu fiquei espantada. Claro, ele estava sendo legal comigo. Eu pensava que toda a família Campbell me odiasse. Mas não. O Toni estava sendo legal comigo, estava conversando comigo sem me insultar, e agora estava perguntando se eu queria assistir um filme com ele.
Claro, que eu aceitei.
-Claro, eu adoraria. Mas você quer ver da TV, ir ao cinema...?
-Eu estava pensando em a gente ir na locadora que tem aqui perto, locamos um filme, compramos pipoca, e assistimos.
Não tinha entendido uma parte disso tudo. Se a casa ficava em um condomínio, nós iriamos a pé? Será que era muito longe?
Quando perguntei a ele como nós iríamos, ele respondeu na maior tranquilidade.
-De carro, ué.
Ah sim, tinha esquecido que ele tinha 16 anos e já podia dirigir.
-Vou pegar meu casaco - falei
Eu tinha aprendido rápido o caminho para o meu quarto, então não demorei de chegar lá.
Quando voltei, o Toni já estava me esperando lá fora.
-Não é melhor avisar aos nossos pais?
-Eu pedi para o Willian avisa-los, e não se preocupe, não vamos demorar.
Willian, é o nome do nosso mordomo, só pra constar.
Quando entrei na BMW 645 azul-marinho do Toni, um cd dos Beatles começou a tocar. Toni tinha cultura! Uau!
Chegamos na West Gray Street onde tinha a Blockbuster, do lado Boston Market. Toni estacionou o carro e nós saímos.
E encontramos na porta da locadora a loira que me chamou de leão no aeroporto.
-Olá Toni - disse ela toda manhosa
-Oi. - disse Toni, sem sentimentalismo nenhum
-Você gostaria de assistir um filme na minha casa?
-Não obrigado, primeiro porque já tenho companhia, e segundo que eu tenho que voltar pra casa. Vamos Mandy.
Acho que só quando ele me chamou, que ela percebeu que eu estava com ele. Ela ficou boquiaberta, mas nem liguei. Segui o Toni e fomos procurar um filme.
Ok, saímos de lá com 5 filmes. Mas desses 5, um era para os nossos pais, outro para a Valentina, e os outros 3 pra gente.
Passamos no mercadinho do lado da locadora compramos pipoca e refrigerante, e voltamos para casa.
Até que não tinha sido assim tão ruim.
Chegamos em casa, a Valentina estava na sala de TV, mas o Toni, repito, o Toni entregou o filme a ela e a expulsou de lá. A princípio ela reclamou, mas quando ele mostrou o filme, ela foi pro quarto dela.
Dos filmes que pegamos, 1 era de ação, outro era de comédia, e o outro era de terror. Decidimos deixar o de terror para mais tarde, e fomos assistir o de ação.
Duas horas depois, já estava na hora do jantar...
E nós dois estávamos empanturrados de pipoca e refrigerante.
Mas a Mônica, fazia questão de que nós jantássimos todos juntos. Então fiquei na mesa remexendo a comida no prato.
-Então Amanda, ansiosa pro seu primeiro dia de aula?
Eu estava tentando pensar nisso o mínimo possível, mas é claro que a Mônica tinha que me lembrar, afinal de contas ela me ama.
-Claro. - respondi
Mas a verdade é que eu não estava nem um pouco ansiosa. Eu não sabia como as pessoas daqui eram. E se todos fossem que nem a loira que me chamou de leão e se jogou pra cima do meu (não) irmão? Será que o Toni era popular?
Ah meu Deus!
Acabei de raciocinar uma coisa. Se a loira conhece o Toni, e eu vou pra mesma escola que ele, será que...
A loira também estuda lá?
Não, não, não. Em um dia ela já tinha me insultado duas vezes, e eu nem era da escola dela...ainda. Bom, eu pelo menos esperava que não fosse. Porque se, são 200 dias de aula, e se ela me pirraçasse todo dia duas vezes, seriam 400 pirraças no ano todo!
Serio, só de pensar nisso, me deu ansia de vômito.
Mas calma, eu não vomitei. Em vez disso, me retirei da mesa, e disse ao Toni pra deixar os outros filmes para outro dia. Se eu visse uma gota de sangue agora, acho que passaria mal.
Subi para o meu quarto, e liguei o computador. Tinha prometido a Dani que iria escrever sempre a ela sobre meus dias aqui. e o primeiro dia não tinha sido dos melhores.
Depois de relatar minha trajetória até aqui, escovei os dentes e me deitei na cama para assistir TV, mas, mais uma vez, caí no sono.
E dessa vez não entendi porque, já que dormi a tarde inteira.
Mas era até bom. Dormindo eu pensava menos no dia seguinte.
Eu acho.
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