Quando contei a Emily, o que aconteceu depois que ela saiu, ela quase deu um berro. Só não deu porque eu pisei no pé dela. Mas enfim. Isso não importa. O que importa é: eu estou namorando com o filho da minha madrasta e não sei como falar isso para o meu pai, muito menos pra mãe do garoto.
Quando a aula terminou, o Toni já estava na porta da sala. Ele me acompanhou até minha próxima aula e deu mais idéias para o plano "Como falar aos nossos pais que estámos namorando?".
-Eu pensei na gente pagar um jantar pra nós quatro e aí contamos. Ai é bom que, já que vamos estar em um ambiente público, principalmente a minha mãe, não vai poder fazer um escandalo, sabe, pra não pagar mico.
A idéia do Toni era boa, mas não tenho certeza de que a Mônica teria vergonha de berrar com a gente mesmo que estivesse no Oscar ou algo do tipo.
Mas tive que sair dos meus pensamentos quando o Ryan veio falar comigo.
-Mandy, posso falar com você rapidinho? - Concordei com a cabeça e segui ele até um canto da lanchonete. - A Jennifer me falou...coisas hoje. Sobre você. - Ele deu mais uma pausa, como se estivesse planejando tudo que fosse falar, cada palavra, cada virgula, cada entonação. - Ela me disse que você estava me traindo, com o Toni. Eu não acreditei claro, você não faria um coisa dessas que eu sei. - Vendo que eu não respondi nada ele completou. - Ou faria?
O que fiz em seguida foi contar tudo a ele, sem tirar nem acrescentar nada. O Ryan era indiferente pra mim agora. Eu não me importaria se ele morresse de raiva de mim. Já que eu já estava numa encrenca gigante, o Ryan me odiar seria só um detalhe.
Ele também não falou nada até eu terminar e para minha surpresa, sabe o que ele fez quando eu terminei?
Ele simplesmente me deu as costas e saiu andando sem falar nada.
Ou seja, eu não faço a mínima idéia se ele me odeia, ou me perdoa, ou algo do tipo.
Ryan, eu ainda não sei ler mentes, querido!
Voltei para a mesa. Contei ao Toni a cena que se passara, e ele nem ficou tão surpreso quanto eu.
-Calma, que você acaba descobrindo.
Disso eu já sabia, o problema era como eu descobriria.
Aliás, descobri quando cheguei em casa e encontrei a Jennifer, o Ryan, a Mônica e o meu pai conversando. Ou seja, encrenca.
-Amanda Thompson, precisamos conversar.
O jeito que meu pai falou isso, foi igual a como ele falou pra mim que iríamos nos mudar.
Só que pior.
-Amanda, essa adorável garota e esse adorável garoto acabaram de nos contar coisas absurdas sobre você e o Toni. E sei que é tudo mentira, pois confio em vocês dois. Mas queria ouvir isso da boca de vocês antes de dispensa-los.
Eu olhei pro Toni e o Toni olhou pra mim. Eu já havia mentido pra meu pai antes, mas não sei se conseguia agora. Mesmo depois de toda a bagunça que esse romance tinha provocado, eu não queria mante-lo escondido. Principalmente do meu pai.
-Não sei o que eles falaram exatamente pai. Mas uma parte é verdade.
-Que parte Amanda?
Cada vez que meu pai falava mais nervosa eu ficava. Como eu ia dizer isso a ele. Como eu ia explicar a meu pai que beijei o Toni no cinema? Como iria dizer que ele me beijou nessa mesma noite antes de dormir? Como iria dizer que nos beijamos no corredor do colégio, quando o Toni ainda estava "ficando" com a Emily? E pior...
Como iria dizer a ele que estávamos namorando?
-Mãe, olha, - O Toni tomou coragem e começou a falar. - eu vou ser bem rápido e claro: eu amo a Mandy. Eu estou apaixonado por ela. E ... nós já estámos namorando. E eu preciso que vocês aprovem isso, afinal não se escolhe quem se ama.E nós nem somos irmãos. É algo que poderia acontecer com qualquer um. E eu, espero que vocês entendam.
Ninguém falou nada por um bom tempo. A Mônica estava pasma, e parecia que ia chorar. O meu pai estava com a cara séria e olhava de mim para o Toni e do Toni para mim. A Jennifer estava com cara de...Jennifer, digo, metida, orgulhosa, chata, antipática e, na ocasião, vitoriosa. E o Ryan estava com cara de quem fez a coisa mais errada do mundo, digo, contar aos nossos pais sobre o que aconteceu.
Depois de um bom tempo em silêncio, achei que alguém falaria alguma coisa. Mas na verdade, o meu pai saiu em silêncio e subiu as escadas em direção a seu quarto. A Mônica foi logo atrás, deixando eu, o Toni, o Ryan e a Jennifer sozinhos na sala.
-Porque vocês fizeram isso? - Ah, eu perguntei isso já chorando, só pra constar. - Principalmente você Ryan. Eu pedi desculpas, não foi por querer que beijei o Toni. Não foi por querer que me apaixonei por ele. Já era de se esperar um comportamento desse tipo da Jennifer, mas você? Eu achava que você era...diferente.
Não acredito que estava chorando ali na frente do Ryan e da Jennifer como se fosse um bebê faminto. O Toni me deu mais um daqueles abraços reconfortantes dele, o que foi bom por dois motivos. Primeiro que eu realmente me sinto melhor com os abraços do Toni. E segundo que a Jennifer deve ter se comido de raiva.
-Jennifer, vai embora. - Pediu o Toni.
-Não, obrigada, estou muito bem aqui.
-Jennifer, sai da minha casa agora!
-Me tire! - Disse a Jennifer já se levantando.
O Ryan se levantou em seguida e segurou o braço da Jennifer.
-Vamos embora Jennifer. Eles já sofreram o suficiente. - Disse o Ryan.
A Jennifer virou a cabeça pra o Toni com um sorriso, e depois virou o corpo inteiro.
-Eu só saio se o Ryan me beijar.
Eu olhei para o Ryan com uma cara de desespero sabe, tipo, cachorro de rua, sem dono e tal.
-Por favor. - implorei.
O Ryan pegou a Jennifer pela cintura rápido e beijou ela. Ele tentou se soltar dois segundos depois, mas a Jennifer não deixou. Ela queria que, sei lá, eu visse o que estava perdendo, ou que eu percebesse que o Ryan era melhor que o Toni, mesmo que ele não seja. Mas não deu certo. Aliás, na hora eu tive uma idéia. Quando a Jennifer tava terminando de beijar o Ryan, virei para o Toni e o beijei.
Já falei que o beijo do Toni é maravilhoso né? Ah, já sim.
O Toni me puxou pra perto dele pela cintura e me retribuiou o beijo. Foi maravilhoso, óbvio. Mas eu me envolvi tanto com ele que nem percebi se a Jennifer tinha parado ou se estava olhando para a gente.
Me afastei do Toni e voltei a olhar pra Jennifer, que, por sua vez, olhava pra mim como se eu tivesse arruinado a vida dela. Na verdade, para ela, eu tinha arruinado. E era por isso que ela tinha tanto ódio de mim.
Depois disso, eles foram embora. Eu ainda fiquei um bom tempo parada do lado do Toni. Depois de um tempo, comecei a chorar loucamente. O Toni ficou super sem jeito, sabe, acho que ele nunca teve que passar por uma situação dessa. Mas enfim. O pior ainda não tinha acontecido. Quer dizer, o meu pai subiu e ainda não voltou. Ele provavelmente queira conversar comigo.
E a noite, depois do jantar mais silencioso da minha vida, ele bateu na porta do meu quarto.
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